segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Olhando para todos os lados

Hoje, na volta para casa, me peguei pensando em questões completamente melancólicas. Daquelas realmente tristes, que chegam a doer no peito, passando longe da tristeza necessária que todos nós às vezes sentimos. Realmente acordei em um dia "daqueles", quando minha única vontade era continuar deitada, quieta e reflexiva. No máximo assistiria a um filme ou comeria alguma coisa, já que não escapo do típico quadro de gorda tensa. Mas tive que levantar, sair, passar o dia todo fora. E, pra variar, ainda tive a proeza de esquecer meu fone de ouvido. Mas eu saí, cumpri com todos os meus afazeres e aí sim pude voltar pra casa, ainda carregando aquele sentimento azedo e nada agradável comigo. Sem aquilo de querer menosprezar a juventude atual, até porque faço parte dela, mas eu só conseguia me perguntar como o mundo conseguiu chegar onde chegou. Não culpo a juventude porque simplesmente não consigo enxergar culpados nesse caso. E, quando falo do mundo, estou me referindo a ele por inteiro, e isso inclui todos nós, desde crianças até os mais idosos. Idosos que podem até ter vivido tempos melhores, mas que parecem ter esquecido como é viver em um mundo tão mais... Humano. E eu acho que é disso que o planeta está precisando, de humanidade. Respeito, amor, compaixão, tolêrancia. Sentimentos genuinamente nossos e, portanto, não devemos ter medo de redescobrí-los. Estou cansada de saber das notícias que correm mundo afora. E, não indo tão longe, estou cansada de ver o que está aí, bem diante dos meus olhos, e não conseguir fazer nada. Estou simplesmente esgotada dessa gente que insiste em ignorar o que está tão evidente. Certamente seria mais fácil se eu fizesse o mesmo e juro, já tentei. Mas não adianta, negar uma realidade que me vem com tanta intensidade não é da minha natureza. Estou cansada de esbarrar com quem carrega tanta agressividade consigo. Com aqueles que usam e abusam da grosseria, gratuitamente. Antes eu me achava muito esquisita por ter 16 anos e estar constantemente envolvida numa nostalgia amarga do tempo que sequer conheci. Mas agora, ando me acostumando com essa minha pretensão de mudar o mundo. Talvez o que realmente sinto é uma certa conformidade, em tudo. Como se, apesar de incomodados, permanecêssemos inertes. Estou de saco cheio de ver tanta gente assustada, grilada e alerta. Gente que está sempre com um pé atrás em relação ao outro. Precisamos de pessoas que saibam enxergar quem está em volta. Que saibam ver os direitos e sentimentos que vão além do próprio umbigo. Precisamos de gente que olhe pro outro com mais cuidado. Hoje acordei mesmo mal e, pelo visto, dormirei da mesma forma. Mas não quero deixar de acreditar no dissipar da tristeza e na esperança de que amanhã as coisas possam mudar. E que eu possa acompanhar essa mudança e sorrir com ela, da mesma forma que agora estou triste. Venho aqui a favor de um mundo mais bonito.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Isso não é um adeus

Se você estiver com tempo, peço que leia tudo o que eu tenho pra te dizer. Mas se você estiver ocupado, dobre o que tem em mãos, guarde, e depois, quando achar uma brecha, leia, mas só faça isso quando realmente tiver tempo, para que possa dedicar toda a sua atenção às minhas palavras. Só te peço que não jogue isso aqui de lado, que não coloque em um daqueles seus esconderijos que nem eu, nem você, nem ninguém, conseguimos achar depois. Vim apenas te dizer que finalmente superei sua ausência. Que não estou mais como estava desde aquele dia em que cheguei no prédio e cruzei com você na portaria, de mala e cuia, indo embora da minha vida sem ao menos me comunicar. Sei que você sabe como eu estive sem você durante todo esse tempo, mesmo que você não tenha atendido sequer uma das minhas milhares de ligações. Sei que você sabe que permaneci sozinha, apenas esperando a campainha, o telefone, ou o celular tocar. Esperava pois queria perceber que construímos algo juntos, mas, depois de anos esperando pelo o que nunca aconteceu, percebi que na realidade nada foi construído. Se a nossa relação tivesse significado algo pra você, você teria ao menos me atendido alguma vez, pra saber como eu ando, se ainda respiro, se eu ainda tenho o que comer. Sim, porque depois que você saiu eu fiquei desestruturada, em todos os sentidos, não tendo conseguido pagar nenhuma das minhas contas. Isso porque você insistiu a vida inteira para que eu não trabalhasse e eu, apaixonada e consequentemente iludida, dediquei minha existência toda e exclusivamente a você, abrindo mão da minha independência financeira e emocional. E quando você se cansou e resolveu ir embora, porque foi isso o que aconteceu, tive que recorrer aos meus pais, voltar a morar com eles, depois de tantos anos, para voltar à faculdade, conseguir um trabalho e depois, após muito suor, quitar meu apartamento. E durante todo esse tempo, tentando superar o que aparentemente era insuperável, permaneci sozinha, pois todos os nossos amigos, depois da separação, simplesmente deixaram de ser os nossos amigos, e passaram a ser somente seus. Confesso que nunca pensei que as coisas seriam assim. Uma relação tão boa como a nossa parecia ser, nunca poderia terminar como terminou. Mas sim, terminou, e minhas ilusões transformaram-se subitamente em desilusões, e todos os meus planos e expectativas desceram pelo ralo. Acho que grande culpa disso tudo foi minha. Não que você nunca tenha dito e feito coisas que me fizessem acreditar da veracidade do seu amor, mas, você sabe, eu sempre fui de criar expectativas e viver numa dessas utopias completamente imersivas. Todos dizem que o certo é não criar expectativas, assim a decepção não corre risco de acontecer, mas, afinal, quem é aquele que se entrega numa relação, sem que crie uma série de abobrinhas na cabeça? Você também é assim, eu sei, mas a diferença é que eu sempre correspondi às suas expectativas e talvez, se não fosse assim, você ainda me amasse. Mas não, você sempre desprezou o que é fácil pra você, e correu atrás do que parece mais difícil. É tão mais gostoso, não é? E talvez seja por isso que você sempre sustentou relações em paralelo à nossa, sem que eu nunca tenha me pronunciado, mesmo que soubesse. É bem mais fácil acreditar que tudo anda às mil maravilhas. Bem, depois de ter falado tanto, parece que estou lhe provando o contrário do que vim lhe dizer. Parece que não te superei coisa nenhuma e que continuo louca por você. Mas não,só estou te dizendo tudo o que já parecia estar enterrado, pois você nunca me deu a oportunidade de expressar o que eu sinto. Eu posso não ter te esquecido, eu posso ainda amar você, mas já superei a sua ausência. Já não olho a sua foto todas as noites e imploro para um Deus, no qual nem acredito, para que volte. Já não te ligo e desligo só para escutar sua voz e saber que está tudo bem. Sim, eu sei que você sempre soube que era eu, mas na verdade, nunca me preocupei com isso. O que quero lhe dizer é que não te coloco mais como minha prioridade. A verdade é que, o que quero mesmo lhe dizer, é que com a dor, tive que aprender a reconstruir toda uma vida. Tive que encontrar novos amigos, me entender melhor com meus pais, rever uma série de valores. Passei a ler livros de autores que antes desconhecia e apreciar artes que hoje já não vivo sem. Te digo tudo isso pois amanhã estou indo viajar e dessa vez não volto tão cedo. Vou a trabalho, mas tenho certeza que essa experiência será muito boa pra mim. E isso não é um adeus, de forma alguma. Eu realmente espero que a gente possa se reencontrar um dia e que possamos sair como amigos. Ou não. Eu sei que acabei saindo ferida com toda essa história, mas sei que pra você também não foi fácil. Nunca entendi seus motivos, aliás, eu não soube de nenhum deles por você. Mas eu vivi ao seu lado e sei que, por trás dessa pessoa dura que você deixa transparecer, existe alguém que só não sabe conciliar o que sente. Eu não queria ir embora sem escutar nada de você... Bom, já está tarde, escrevi demais e minha vista já está cansada. Fica bem. Se cuida.

sábado, 5 de junho de 2010

Lua nova demais

De Elisa Lucinda


"Dorme tensa a pequena
sozinha como que suspensa no céu
Vira mulher sem saber
sem brinco, sem pulseira, sem anel
sem espelho, sem conselho, laço de cabelo, bambolê
Sem mãe perto,
sem pai certo
sem cama certa,
sem coberta,
vira mulher com medo,
vira mulher sempre cedo.

Menina de enredo triste,
dedo em riste,
contra o que não sabe
quanto ao que ninguém lhe disse.
A malandragem, a molequice
se misturam aos peitinhos novos
furando a roupa de garoto que lhe dão
dentro da qual mestruará
sempre com a mesma calcinha,
sem absorvente, sem escova de dente,
sem pano quente, sem O B.
Tudo é nojo, medo,
misturação de “cadês.”

E a cólica,
a dor de cabeça,
é sempre a mesma merda,
a mesma dor,
de não ter colo,
parque
pracinha,
penteadeira,
pátria.
Ela lua pequenininha
não tem batom, planeta, caneta,
diário, hemisfério,
Sem entender seu mistério,
ela luta até dormir
mas é menina ainda;
chupa o dedo
E tem medo
de ser estuprada
pêlos bêbados mendigos do Aterro
tem medo de ser machucada, medo.
Depois mestrua e muda de medo
o de ser engravidada, emprenhada,
na noite do mesmo Aterro.
Tem medo do pai desse filho ser preso,
tem medo, medo
Ela que nunca pode ser ela direito,
ela que nem ensaiou o jeito com a boneca
vai ter que ser mãe depressa na calçada
ter filho sem pensar, ter filho por azar
ser mãe e vítima
Ter filho pra doer,
pra bater,
pra abandonar.

Se dorme, dorme nada,
é o corpo que se larga, que se rende
ao cansaço da fome, da miséria,
da mágoa deslavada
dorme de boca fechada,
olhos abertos,
vagina trancada.
Ser ela assim na rua
é estar sempre por ser atropelada
pelo pau sem dono
dos outros meninos-homens sofridos,
do louco varrido,
pela polícia mascarada.

Fosse ela cuidada,
tivesse abrigo onde dormir,
caminho onde ir,
roupa lavada, escola, manicure, máquina de costura, bordado,
pintura, teatro, abraço, casaco de lã
podia borralheira
acordar um dia
cidadã.
Sonha quem cante pra ela:
“Se essa Lua, Se essa Lua fosse minha...”
Sonha em ser amada,
ter Natal, filhos felizes,
marido, vestido,
pagode sábado no quintal.

Sonha e acorda mal
porque menina na rua,
é muito nova
é lua pequena demais
é ser só cratera, só buracos,
sem pele, desprotegida, destratada
pela vida crua
É estar sozinha, cheia de perguntas
sem resposta
sempre exposta, pobre lua
É ser menina-mulher com frio
mas sempre nua."

(Poema encomenda,1995)

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Hoje pensei, confesso que por um bom tempo, sobre algo que continua a me perturbar. Penso nisso quase diariamente, sou meio frustrada com algumas coisas, o que ocupa minha cabeça e, algumas vezes, me impossibilita de fazer algo produtivo. Existem pessoas que sem conhecer outras já criam um conceito pra elas, uma opinião quase indestrutível, baseada na pior maneira de avaliar alguém: a aparência. E assim essas pessoas continuam fechadas em seus mundinhos, permanecendo com as mesmas opiniões sobre o que quer que seja e convivendo com os mesmos indivíduos. Eu penso, e penso depois de muito analisar, que seres como esses não admitem ninguém que fuja um pouco do que eles consideram normal, do que não siga o seu padrão. E aí vêm as centenas de historinhas frutos de uma imaginação impressionante. Quem diz que nunca olhou pra alguém e sentiu uma antipatia não justificada está mentindo, obviamente. Isso é natural e inevitável. Mas o que não dá é abraçar isso e nunca mais soltar, tornando-se imune a qualquer mudança de opinião. Sou a favor de que todos que sintam esse tipo de sentimento lutem para extingui-lo. Tribos não definem seres. As aparências realmente enganam. E também não é porque alguém pertece a um grupo que você se identifique que é um dos seus. Existem muitos por aí que são só fachada... Se você for futucar direitinho vai ver que não é exatamente como você estava pensando.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Não sei criar títulos



Eu, como uma pessoa que nasci com o "dom" de mergulhar em inúmeras questões da vida, resolvi criar um espaço em que eu pudesse expressar algumas das minhas ideias. Ideias essas que possibilitem o alcance do autoconhecimento, coisa que nunca desisti de buscar. Não é me definir, entende? Isso só acaba fazendo com que permaneçamos fechados por achar que sabemos quem somos. Mas é ter convicção do que é importante, dos meus valores e daquilo que, com todas as turbulências que venham aparecer, irá permanecer intacto. Escrever faz com que eu sinta, nem que seja por alguns instantes, minha alma tranquila e liberta.